21/04/13

O Livro


No ar o toque ensurdecedor dos telefones. As vozes monotonamente profissionais. “Está quase”. Os olhos encontram o relógio. “Quase”. Atende o telefone.
É hora. Voa pelos cubículos impessoais, desliza  escadas abaixo, ziguezagueia pela multidão, olhar fixo no autocarro fechando as portas. Empurra. Óculos embaciados, respiração ofegante. “Quase”.
Sai correndo. Não cumprimenta. Entra, despe o casaco, limpa os óculos. Aterra no sofá. Suspira. Pega no livro. “Onde íamos, amor?”. O homem de papel e sonhos materializa-se naquele instante.

Isabel Galucho, 41 anos, Lisboa

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